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Aspectos da Profecia

Aspectos da Profecia

Profecia

Já se disse que a profecia é uma espécie de análise de uma dada realidade, uma produção de diagnóstico concreto, com tomada de postura/partido por parte do profeta. Dai nascem à proposta, as saídas que a profecia comporta. A linguagem profética, neste sentido, é uma linguagem produzida num determinado lugar social. O termo “profeta” aparece pela primeira vez na bíblia em Gn 20, 7s quando diz que Abraão é um profeta, associado à questão do sonho. Quem produziu isso sabe o que é profecia.

Na história de Israel, os textos proféticos foram produzidos em ambientes diferentes (o antigo, o da formação do povo, o da monarquia, exílio, pós-exílio etc.). A profecia mesmo nasce no período da monarquia. Os profetas se opunham – ou não – ao rei. A linguagem da profecia irá marcar os textos ligados à formação do povo (no tempo antigo) e os textos onde não tem profecia (como por exemplo, no pós-exílio). No ambiente antigo, com a construção da história do povo de Deus, a profecia não se personifica num profeta. Mas há a linguagem profética nos textos que relatam história, sonhos, leis, nas narrativas etc. A história deuteronomista, do gênesis ou êxodo não se constrói a partir da pessoa do profeta. No entanto, em seus escritos, encontra-se a marca da linguagem profética.

Há, no que foi dito, uma questão literária: a bíblia não é um conjunto de livros ou temas literários estancados, fixos, paralisados (só com histórias, leis (torá) profecias (neviim), sabedoria (ketvvim), etc.). A sagrada Escritura mistura leis, profecias e sabedoria. Uma coisa não se distancia da outra. A profecia está muito próxima da história, da lei, da sabedoria etc. O mesmo vale para o raciocínio inverso. Mas o que há de comum e específico?

Profecia na Monarquia

A partir do ambiente da monarquia, a profecia produz análises presentes em textos anteriores, durante e posteriores ao exílio. A profecia produz análise sem meio termo. Ela tem a ver com os conflitos de reis. Os verdadeiros profetas bíblicos não gostam de reis. A crítica deles tem a ver com os tributos, com a exploração. Em Jz, 9, 1s temos um texto que não é de profeta, mas que tem a linguagem crítica da profecia que coloca não somente um, mas vários reis. Trata-se de uma monarquia que se distancia daquela propagada por Saul.

Em Jz 9, 1-6 temos: a) a monarquia, com seu tributarismo, produz um conflito clâncio – sobretudo no que diz respeito ao modo de produção. Vê-se um conflito político-econômico. Dai o porquê de a profecia sugerir vários (70) e não somente um rei. Ela sugere um poder descentralizado que beneficie a sociedade clânica; b) a monarquia tributária tem seus instrumentos para dominar: a aliança com os chefes dos cidadãos. O clã do pai é antimonárquico; o clã da mãe (onde está Siquém) é monárquico. É com esse último que Abimeleque quer fazer aliança; outro instrumento é a religião ou o espaço sagrado... que justificará a praga, a nomeação dos reis (cf. Jz 9,6) que acontece no altar (lugar máximo), no Templo; o terceiro instrumento é o exército. Ele justificará, militar e tributariamente, as ações do Rei. O grande objetivo da monarquia era justificar que esse regime é melhor, eliminar a oposição, o projeto anterior do tribalismo. Para isso, é preciso eliminar os 70, o projeto clânico, de governo coletivo. No fundo, com o passar dos anos, a monarquia acabou com as forças clânicas. Isso marcou o fim de Israel, com a invasão do império babilônico. Eliminar o clã significou eliminar o foco de resistência ao tributo. Conclusão: quem escreveu os 6 versículos conhece a monarquia e está produzindo uma análise sobre a Monarquia, propondo, inclusive, alternativas de gestão coletiva.

A sequência de Jz 9, 8-15 vai trazer uma historinha popular para o povo entender. Trata-se da história das árvores que não querem reinar... até que... o espinheiro assume o reinado... Eis mais uma forma profética de fazer análise sobre quem é do projeto da monarquia (tributário), neste caso o espinheiro, e as árvores que se negaram (árvores, que simbolizam a produção de doce, figo, vinho e óleo). A riqueza literária desse texto é que, pelas respostas em paralelo da oliveira e da videira (com óleos e vinhos que agradam e honram homens e deuses), há um não ao tributarismo, ao projeto monárquico. O espinheiro é o sim a monarquia. Note-se que ele não tem produção. Só na cidade é que não se produz... e ela não é tribal, ao passo que o campo é tribal. As palavras do espinheiro, após aceitar, diz: “se assim o queres, vinde debaixo de minha sombra, mas se não for de boa fé, sairá fogo do espinheiro” (cf. Jz 9,15). O bem estar para o camponês é estar na sombra: ter uma boa produção e ficar tranquilo. Por isso o espinheiro propõe sombras... Mas protege os que estiverem ao seu lado. Do contrário, virá a destruição, o fogo. Conclusão: o texto está banhado de linguagem profética com relação à monarquia.

Em 1Sm 8, no mesmo teor da linguagem profética, temos três partes no texto: v 1-10; vs 11-17; vs 18-22. Esses últimos estão em continuidade com os primeiros. Vale, pois, a pena analisar o que está no meio para ver onde se encontra a profecia do texto.

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Sival Soares, 29 de abril de 2011




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